Stefan Conrad é CEO da Zurich Airport Latin America
O anúncio da privatização da Infraero abre o debate sobre qual modelo de concessão o governo irá propor neste momento. Aqui, a gestão de aeroportos sempre foi entendida como um serviço público, justificando a existência da Infraero. Porém, em breve, se seguirmos a tendência global, será história empresas estatais operando neste mercado. Basta ver que os maiores aeroportos brasileiros já são privatizados. As concessões precisam melhorar não apenas a qualidade dos serviços, mas também garantir maior valor econômico ao setor. Isso pode ser feito de maneira mais eficiente em um ambiente de estabilidade política e com regras que respeitem a realidade econômica, permitindo um processo inovador de otimização como alternativa a simples investimentos em infraestrutura.
Há cinco anos, o Brasil segue o mesmo modelo de privatização. O contrato estabelece o período de concessão, detalha como o aeroporto deve ser administrado, com uma gestão mais econômica, e determina a infraestrutura a ser desenvolvida.
Esse modelo obriga as concessionárias a, de imediato, realizar grandes investimentos em infraestrutura, em geral, na ampliação e construção de terminais ou de pistas. O resultado é o aumento da capacidade dos terminais, sem levar em consideração possíveis mudanças na demanda, o que, até agora, beneficia somente as construtoras.
Os contratos de concessão precisam prever a possibilidade de postergar investimentos, para que se possa planejar uma expansão viável da infraestrutura. Como a atual regulamentação não permite mudanças, alguns aeroportos privatizados enfrentam graves problemas, como vemos diariamente no noticiário.
De fato, não há uma relação direta entre um alto volume de investimentos de imediato e serviços melhores. Em nossos primeiros cem dias na administração do Aeroporto de Florianópolis, diminuímos o tempo de acesso às salas de embarque em nove minutos nos voos internacionais, e em quatro minutos nos voos nacionais, antes mesmo de iniciarmos a construção de um novo terminal, que deverá estar pronto em 2019.
Hoje, mais e mais pessoas usam transporte aéreo, e aeroportos devem crescer continuamente. Linhas aéreas e aeroportos estão focados em responder às necessidades dos passageiros. Maior qualidade se tornou uma vantagem competitiva. E, num sistema privatizado, o alto nível do serviço é obrigação do concessionário. Os órgãos reguladores precisam repensar como e o que regular.
A Zurich Airport Latin America opera dois aeroportos aqui, dois no Chile, um na Bolívia e um em Curaçao. O Aeroporto de Zurique, na Suíça, é um dos dez melhores do mundo. Infelizmente, a regulamentação brasileira não deixa muito espaço para a adaptação de planejamentos previamente decididos. Em benefício do passageiro e da indústria de aviação, as autoridades devem permitir e preferir soluções operacionais inovadoras e flexíveis, em vez de limitar as possibilidades de gestão durante o período de concessão.
Aumento da capacidade dos terminais não leva em consideração possíveis mudanças na demanda nos aeroportos. |