Mais de cem pessoas morreram após a queda de um avião nesta sexta-feira (18), em Havana.
O número exato de vítimas ainda não é conhecido. Inicialmente, o líder da ditadura cubana, Miguel Díaz-Canel, disse que o voo tinha 113 ocupantes —104 passageiros e nove tripulantes—, mas o jornal Granma, ligado ao regime, informou que eram 105 no total, com ao menos cinco crianças.
A aeronave, um Boeing 737-200, caiu às 12h08 (13h08 de Brasília), instantes após decolar do Aeroporto Internacional de Havana José Martí.
O local da queda, nas proximidades do terminal 1 do aeroporto, é uma área rural entre as cidades de Boyeros e Santiago de Las Vegas.
“As notícias não são nada promissoras. Parece que há um grande número de vítimas”, disse Díaz-Canel ao se dirigir ao local do acidente.
O site Cubadebate, também da mídia estatal, informou que, além da tripulação mexicana, cinco passageiros eram estrangeiros —dois deles argentinos, segundo Buenos Aires.
De acordo com o jornal Granma, três mulheres sobreviveram. Citando uma segunda fonte, o periódico chegou a afirmar que uma delas havia morrido.
O diretor do hospital onde os feridos foram internados, porém, informou às 22h (horário de Brasília) que as três sobreviventes seguiam em estado grave, porém estável.
Uma quarta pessoa, um homem, também teria sobrevivido à queda, mas morreu ao chegar ao Hospital Universitário Calixto García.
“Ela está viva, mas muito queimada e inchada”, disse o parente de uma sobrevivente.
Díaz-Canel disse, no início da noite (horário de Brasília), que o incêndio provocado após a queda havia sido apagado e que autoridades deram início à identificação das vítimas. As causas do acidente estão sendo investigadas.
Os destroços ficaram espalhados por uma área de 20 km ao sul de Havana.
O destino do voo era a cidade de Holguín, a cerca de 700 km ao leste de Havana, balneário famoso por suas praias com águas cristalinas.
“Ouvimos uma explosão e então vimos uma grande nuvem de fumaça subir”, afirmou Gilberto Menendez, proprietário de um restaurante próximo ao local do acidente, na região de Boyeros.
Yordanis González, que esteve no local próximo ao desastre, disse à rede britânica BBC que “o avião se desfez em pedacinhos, com uma asa de um lado e a outra para o outro”.
“Nós que moramos aqui tentamos ajudar. Ainda estão fazendo buscas para ver se há sobreviventes.”
De acordo com o Granma, o primeiro morador chegou ao local cinco minutos após o acidente. Depois de 12 minutos, chegaram as equipes de resgate.
A aeronave pertencia à empresa mexicana Damojh, que usa o nome fantasia Global Air, mas estava arrendada para a companhia aérea estatal Cubana de Aviación, a principal da ilha comunista.
Um funcionário da companhia mexicana confirmou à agência de notícias Associated Press que seis mexicanos faziam parte da tripulação que trabalhava na aeronave.
Em seu site, a empresa mexicana disse que “durante a decolagem, o avião aparentemente sofreu um problema e mergulhou no solo”.
“Estamos coletando tudo o que podemos para dar a informação correta”, afirmou um funcionário da Damojh.
O governo mexicano informou que vistorias de manutenção no avião foram realizadas em novembro do ano passado, e que nenhuma ocorrência foi registrada.
Em nota, o Itamaraty lamentou o ocorrido e afirmou que não há, até o momento, informação de brasileiros entre as vítimas.
Apesar de frota velha, Cubana tem histórico razoável de segurança
Último acidente com vítimas envolvendo avião em voo da empresa foi em 1999
Guilherme Magalhães
A impressão de ter entrado em um túnel do tempo para quem pega um voo com origem ou destino em Cuba é justificada quando se analisa a frota da Cubana de Aviación, a principal empresa aérea da ilha.
O conjunto de 16 aeronaves é composto em sua grande maioria por aviões de fabricação russa e ucraniana dos anos 1980 e 90: seis Antonov An-158s, quatro Ilyushin Il-96s, quatro Tupolev Tu-204s e dois ATR-72 —estes de origem franco-italiana.
Recentemente, a companhia foi proibida de voar com os Antonovs após determinação da autoridade de aviação civil cubana. O motivo seria o suprimento não confiável de componentes para o jato.
Isso forçou a Cubana a buscar um empréstimo (leasing) de Airbus A320 da empresa Avion Express, da Lituânia. Os cubanos, porém, não mantiveram os pagamentos em dia, e o último dos oito A320 arrendados teve de ser devolvido à Avion na terça-feira (15).
A solução encontrada foi encomendar voos charter com a empresa mexicana Damojh, que voa sob o nome Global Air.
O Boeing 737-200 que caiu nesta sexta-feira (18) havia sido fabricado em 1979. Com 39 anos de idade, seria um dos aviões mais antigos ainda em operação na aviação comercial.
No entanto, apesar da frota envelhecida e de um mercado que tem dificuldades em acompanhar o padrão internacional, a Cubana de Aviación tem um histórico decente no quesito segurança.
O último acidente com vítimas de um avião em voo da empresa foi em 1999, quando um Yakovlev Yak-42 —outro russo— caiu na Venezuela, matando os 22 ocupantes.
O mais recente acidente aéreo na ilha cubana ocorreu em abril de 2017. Um avião das Forças Armadas se chocou contra uma montanha, deixando oito mortos.
Em 2010, um voo comercial da Aero Caribbean caiu na região central da ilha, matando todos os 68 a bordo. |